Produzidos pelo cérebro, os endocanabinóides são semelhantes ao princípio ativo da maconha e estão associados à extinção de memórias e ao controle da dor e da ansiedade.

Maconha sintética
Ainda que seu repertório de efeitos não esteja totalmente claro, o conhecimento gerado sobre os endocanabinóides começa a ajudar pesquisadores a conceber terapias que aproveitem as propriedades terapêuticas da maconha. Em alguns países, por exemplo o Canadá, vários análogos sintéticos do THC já estão disponíveis comercialmente, como a nabilona e o dronabinol. Ambos combatem a náusea causada pela quimioterapia; o dronabinol também estimula o apetite em pacientes com aids. Outros canabinóides aliviam a dor provocada por uma infinidade de doenças. Além disso, um antagonista do CB1 - molécula que bloqueia o receptor e o torna inativo - funcionou em alguns testes clínicos para o tratamento de obesidade. Embora promissoras, todas essas drogas têm efeitos múltiplos porque não são específicas. Ao contrário, agem em toda parte, causando reações adversas como tontura, sonolência, dificuldade de concentração e distúrbios cognitivos. Uma forma de contornar tais problemas é realçar o papel desses mensageiros no próprio organismo. Se a estratégia for bem-sucedida, os endocanabinóides poderão ser recrutados apenas em circunstâncias e locais necessários, sem os riscos associados à ativação geral e indiscriminada de seus receptores. Com esse objetivo, Daniele Piomelli e colegas estão desenvolvendo drogas que impedem que a anandamida seja degradada, prolongando seus efeitos no alívio da ansiedade.
Em algumas regiões do sistema nervoso a anandamida parece ser o endocanabinóide mais abundante; em outras predomina o 2-AG. Compreender melhor as vias químicas que sintetizam cada um deles deverá ajudar no desenvolvimento de drogas que afetem seletivamente um ou outro receptor. Além disso, já se sabe que endocanabinóides não são produzidos quando os neurônios disparam apenas uma vez, mas somente após uma rajada de cinco até dez disparos. Uma possibilidade, portanto, seria a criação de fármacos que modificassem a taxa de disparo e, logo, a liberação do endocanabinóide. Essa idéia já tem precedente: os agentes anticonvulsivantes, que suprimem a hiperatividade neuronal subjacente às crises epiléticas sem afetar outras regiões com atividade normal.
Abordagens indiretas poderiam ter como alvo processos que regulam os endocanabinóides. A dopamina, neurotransmissor deficiente nas pessoas com doença de Parkinson, também é fundamental nos sistemas de prazer. Drogas como a nicotina e a morfina produzem seus efeitos, em parte, estimulando sua liberação em diversas regiões. Entretanto, a dopamina estimula a liberação dos endocanabinóides, e diversos pesquisadores identificaram dois outros neurotransmissores - glutamato e acetilcolina - que fazem o mesmo. De fato, os endocanabinóides podem ser a fonte de uma série de efeitos antes atribuídos a outras moléculas. Em vez de mirar diretamente o sistema endocanabinóide, poderiam ser criadas drogas com ação sobre esses mensageiros convencionais. Diferenças regionais em sistemas neurotransmissores devem ser exploradas para assegurar que os endocanabinóides sejam liberados somente onde são necessários e em quantidades apropriadas.
De maneira notável, os efeitos da maconha revelaram os endocanabinóides ao mundo. O receptor CB1 parece estar presente em todos os vertebrados, o que sugere que sistemas canabinóides endógenos existem há cerca de 500 milhões de anos. Durante esse tempo eles se adaptaram para desempenhar numerosas funções, ainda que freqüentemente sutis. Aprendemos que eles não afetam o medo, mas o esquecimento dele; não alteram a capacidade de comer, mas o apetite por alimento, e assim por diante. Sua presença em regiões associadas ao comportamento motor complexo, à cognição, à aprendizagem e à memória sugere que muita coisa resta a descobrir sobre os usos que a evolução fez dessas moléculas.
Em algumas regiões do sistema nervoso a anandamida parece ser o endocanabinóide mais abundante; em outras predomina o 2-AG. Compreender melhor as vias químicas que sintetizam cada um deles deverá ajudar no desenvolvimento de drogas que afetem seletivamente um ou outro receptor. Além disso, já se sabe que endocanabinóides não são produzidos quando os neurônios disparam apenas uma vez, mas somente após uma rajada de cinco até dez disparos. Uma possibilidade, portanto, seria a criação de fármacos que modificassem a taxa de disparo e, logo, a liberação do endocanabinóide. Essa idéia já tem precedente: os agentes anticonvulsivantes, que suprimem a hiperatividade neuronal subjacente às crises epiléticas sem afetar outras regiões com atividade normal.
Abordagens indiretas poderiam ter como alvo processos que regulam os endocanabinóides. A dopamina, neurotransmissor deficiente nas pessoas com doença de Parkinson, também é fundamental nos sistemas de prazer. Drogas como a nicotina e a morfina produzem seus efeitos, em parte, estimulando sua liberação em diversas regiões. Entretanto, a dopamina estimula a liberação dos endocanabinóides, e diversos pesquisadores identificaram dois outros neurotransmissores - glutamato e acetilcolina - que fazem o mesmo. De fato, os endocanabinóides podem ser a fonte de uma série de efeitos antes atribuídos a outras moléculas. Em vez de mirar diretamente o sistema endocanabinóide, poderiam ser criadas drogas com ação sobre esses mensageiros convencionais. Diferenças regionais em sistemas neurotransmissores devem ser exploradas para assegurar que os endocanabinóides sejam liberados somente onde são necessários e em quantidades apropriadas.
De maneira notável, os efeitos da maconha revelaram os endocanabinóides ao mundo. O receptor CB1 parece estar presente em todos os vertebrados, o que sugere que sistemas canabinóides endógenos existem há cerca de 500 milhões de anos. Durante esse tempo eles se adaptaram para desempenhar numerosas funções, ainda que freqüentemente sutis. Aprendemos que eles não afetam o medo, mas o esquecimento dele; não alteram a capacidade de comer, mas o apetite por alimento, e assim por diante. Sua presença em regiões associadas ao comportamento motor complexo, à cognição, à aprendizagem e à memória sugere que muita coisa resta a descobrir sobre os usos que a evolução fez dessas moléculas.
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